novembro 27, 2006

CINEMA POBRE EM CABO VERDE



Quinta-feira, 23/11 – inicio das projecções inseridas no ciclo do “Cinema Pobre em Cabo Verde”, no CCP.

Às 19 Horas, lá estava eu, imbuída de grandes expectativas, mas consciente de ir encontrar, conhecer, um outro plano do cinema, que não o que nos inculcaram desde crianças.
A 1ª projecção em 8mm, que se intitula de “O chapéu do metafísico”, de Francisco Weil, foi um tremendo chapéu nos meus anseios. Do cimo de minha “leiguice” assumo: não gostei! Não entendi e, nem me esforcei muito para isso, diga-se de passagem. Tenho a certeza, ou pelo menos prefiro acreditar que sim, quis passar uma mensagem com as imagens captadas, mas de meu ponto de vista, não conseguiu. Pelo menos para a maioria do publico que o assistiu como eu e com quem tive a oportunidade de prosear no final.
Sequer nos deu uma dica antes, por forma a introduzir um fio condutor!
A única coisa que retive, foi um poema, da autoria de Marcus da Lama, poeta brasileiro, lido no início pelo autor do “Chapéu”, o qual face ao meu pedido, me foi gentilmente cedido, e faço questão de o transcrever:

Permitir-se

Um sol quase anémico
Alivia-me as costas
Ando por itinerários incomuns,
Paralelos que me cortam,
Ruas me visitam em muitos países,
Calçadas por mim vomitadas.
Nasço num beco gótico,
Durmo em bancos abandonados
De praças abandonadas,
Acordo em feiras periféricas,
Recito belos poemas
E todos pasmados, fogem.
Compro roupas velhas
E sinto o perfume da morte,
Faço sexo em ruas desabitadas
Em meio a todos,
Meu corpo reflecte a alma,
Doa-se ao mundo
Recito poemas e poemas…

A 2ª projecção, de nome “ A máscara de Lucifece”, foi introduzida por um pequeno discurso do autor, Ricardo Leite. Pensei que, por oposição ao primeiro, iríamos ser brindados com uma descodificação, por mais pequena que fosse, da mensagem que nos iria ser transmitida através das imagens. Quem dera fosse! Assiste-se a uma oratória rebuscada, meio confusa, onde as culturas árabe e africana são abordadas de forma superficial, e de mais um emaranhado de “hum’s” e “ah’s”. o filme seria muito complexo, era melhor vermos, etc.
Nós que o entendêssemos se quiséssemos, foi a sensação que me ficou.
Bem, não se diferenciou muito do primeiro, não obstante se rechear de mais movimento, mais argumento e mais personagens. Não vislumbrei a lógica da abordagem das culturas! Enfim! Fiquei aguardando pelo terceiro e último da noite.
A 3ª projecção, “Um poeta não se pega”, tratava-se de um documentário, ainda em construção, conforme explicou o autor, Francisco Weil, sobre Sebastião Alba, poeta português. Interessante, e bem mais desnecessitado de descodificação! Gostei! Honestamente!

Impressões: talvez até seja Cinema Pobre, mas decididamente, não é Cinema para o Pobre! Fiquei com a nítida sensação, que se trata de um círculo hermético de gente, que se agarra a seu mundo impenetrável, e que constrói teorias inacessíveis. Então, porquê esta mostra? Porquê não a descodificar, ou fornecer elementos que permitam essa descodificação? Sim, porque se é para irmos assistir, por assistir, sem necessitarmos perceber, não vale a pena!
Desconfio seriamente, que me vão incluir nos "pobres de espirito", já que este cinema é para os ricos de espirito e, como não gostei de algumas coisas.... meio passo!
“Espero sinceramente, que as próximas projecções tenham algo que incentive o publico a ir, senão, este projecto morrerá por aqui mesmo” – pensei, enquanto saía do CCP.

A seguir, ouve uma tertúlia sobre o ciclo, na Kasa Bela, mas não fui.

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