março 17, 2008

O MUNDO DE MARIA

Maria volta para casa, depois de um dia inteiro no trabalho, aturando os desmandos do chefe, as fofoquices das colegas, a incompetência do novo colega “Dr” e… a falta de luz!
Caminha uns poucos metros, para apanhar o transporte, ansiosa por ar puro e desimpedido dos espirros da Joana, que lhe molhavam o “katchasinhu”.
Já na rua, o ar se adensa: um cheiro nauseabundo se mistura aos gases expelidos pelo tubo de escape do autocarro que cai aos pedaços…. Ai meu Deus!
Entre tropeções nas pernas estendidas das vendedeiras, ao comprido no passeio, aos esquivos para não barrar nas “banheiras” de roupa, rebuçados, calcinhas e remédios para todas as maleitas, começa sua amargura.
Só de pensar no autocarro a transbordar, no revisor sem troco, no condutor mal humorado, nos odores que cruzam o ar no final do dia, e nos assentos completamente vandalizados, quase que vai a pé mesmo. Mas não dá! Está exausta, mora muito longe, e dinheiro para táxi, nem que quisesse!
“Talvez compre uma bicicleta às prestações no Kim Negoce” pensa ela. “Xiiii, não é boa ideia! Com a condução aqui, ainda lhe atropelam antes de sair de frente de sua casa! Mota? Esquece! Tás a delirar!”
Bom… vai de Moura mesmo!
Chega a seu destino, sai do autocarro, depois de ter levado uns bons apertões e desaforos, com os olhos bem abertos, pensando que, nestas alturas, bem precisava de três pares deles! Os “caçobodistas” não relaxam e a malta da zona anda em polvorosa. Apressa o passo, com a bolsa bem agarrada, antes que caia o escuro e seja apanhada de surpresa.
Galga uns tantos degraus, passando por sacos de lixo dos vizinhos e umas tantas baratas que vai esmagando com os pés com toda a raiva. Raios que os partam esta gente, caramba!
Abre a porta de casa e, ufaaaaaaa! Lar, doce lar!
Que doce, que nada! A porcaria da obra ao lado, ainda está em plena actividade, com um barulho ensurdecedor, que até Deus duvida! Resolve não abrir nenhuma janela.
Aproveita para limpar a casa, cozinhar e ver um pouco de televisão. Puffffffff! Foi-se a luz!
Caramba! Ninguém merece! Agora que uma pessoa vem para casa, estourada, resolvem cortar a luz! Bom… no meio da raiva, um consolo: a obra pára! Ufff! Que silêncio!


(Continua)