dezembro 07, 2006

SER HUMANO É DOSE!


Me pego por vezes, muitas mesmo, a fazer análises aos comportamentos com que me deparo durante o dia, por pura vontade. Claro que não se poderão chamar de análises científicas, mas de qualquer forma, não deixam de ser análises, só que, “verificas”, e para uso doméstico.
Uma delas, prende-se com a necessidade que o comum dos mortais tem, de “assinar” a autoria das coisas bem feitas, dos actos sem erro, das ideias que pegam, sem no entanto, ter sequer participado em alguma fase da mesma.
Hoje, após uma pequena cena, que me fez recuar no tempo e fazer um apanhado de cenas idênticas, me deparei com uma centena delas. Cada uma mais incrível que a outra!

Anos atrás, ainda adolescente, atravessei aqueles momentos de raiva, comuns a todos, em que se torna irascível e com ganas de esganar o mundo! Num desses momentos, com uma raiva que me dilacerava o fígado, ao referir-me a uma certa personagem, alvo da minha ira (Deus me há de perdoar!) atribui-lhe um pseudónimo jocoso, digno do meu mais hilário diccionário. Não é que a coisa pegou? Aliás, neste nosso território, a maldade pega com uma facilidade!!!!!!! De repente, me apercebi que o pseudónimo havia agradado, e de que maneira!
O real nome se varrera da memória de muitos, passando a alcunha, a imperar de forma absoluta. Mas, a confirmação de minha análise, sobre a necessidade que descrevi acima, se deu, quando, num belo dia, presenciei uma “discussão” entre duas pessoas conhecidas e do circuito dos apegados, que reclamavam uma e outra, da autoria da piada, apresentando datas, ocasiões, etc. à minha frente! Não pude deixar de soltar aquela gargalhada que me sufocava! Perante tal despropósito, quatro-olhos se esbugalharam em direcção a mim, num sinal incrédulo de indagação. “Minha gente, disse eu, não percam tempo nessa disputa ridícula, nem esvaziem vosso arquivo de argumentos!” , “E pode-se saber porquê?” – retorquiu de imediato uma delas – “Porque senão vão as duas pagar direitos de autor e incorrer num crime de plágio”- respondi eu, brincando e ainda não refeita do absurdo – “Só falta dizeres que foste tu a autora, francamente!!” – “Porque não?”, brinquei, “trata-se de tamanha proeza assim?” – Nãooooo! Só que nunca reclamaste a autoria e eu, tenho a certeza absoluta do que digo, sou pouco de mentiras descabidas!”.
“Longe de mim, colocar tua pessoa em questão! Me desculpem realmente, minha intromissão!” – levantei-me, rindo por dentro e abandonei a mesa.
Mas como é que é possível, meu Deus, tanta ligeireza de espírito, me perguntei, reclamar autoria de algo tão patético, algo tão desgratificante! Eu até tenho vergonha e receio de me lembrar que fui eu quem deu início a tudo isto! Não é real!

Situações destas, já presenciei aos milhares, acreditam? Faz-se tarde e meu olho prega, mas depois, hei-de escrever uma outra que se passou há bem pouco tempo. Tenho de escrever, faz-me bem, nem que ninguém leia, eu me sinto mais leve, porque simplesmente, extravaso!




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