dezembro 23, 2006

O VALOR DAS COISAS


Aqui na praça, todo o mundo reclama da falta de iniciativas culturais, da inexistência de eventos atractivos, enfim….
Porém, quando têm um leque de eventos de qualidade, à mão de escolher e participar, ninguém aparece, tirando aqueles que realmente se interessam realmente pela cultura, pela arte (que são poucos, diga-se de passagem!). é triste, francamente triste! Só nos últimos dias, para não falar do resto do tempo todo, o facto se consumou de forma gritante!
Esteve cá, na semana passada, uma grande pianista brasileira, Moema Craveiro, que deu um concerto no Centro Cultural Português… cadê a classe musical ao menos? Uns tantos quantos, ou seja, os mesmos de sempre que demonstram seu interesse de forma absoluta! Os outros, nem cheiro!
No dia seguinte, a mesma pianista, promoveu uma “oficina” para os músicos, no mesmo espaço. Apesar de o convite ter sido uma vez mais reiterado, no dia anterior durante o concerto, o quórum reduziu-se ainda mais! Porque será?
Um grande saxofonista e flautista francês, se apresentou no Tabanka Mar. Sala cheia? Ná! Quem dera!
Kady deu um concerto ontem, no Auditório…. Sala cheia de espaços vazios… porque será?
A exposição de fotografia de Omar Camilo, patente no novo espaço do CCF… lá continua, mas nem mesmo no primeiro dia, houve muita gente a visitar!
A reitoria da Universidade de Cabo Verde promoveu ontem também, um concerto de Natal, no seu Auditório. Cadê todo o mundo? O natal começou mais cedo? No mesmo espaço, está patente uma exposição espectacular de fotografia…. Mas parece que a malta não parecia muito as exposições!
Enfim….
Não consigo entender, nem explicar!
Será deficiência na promoção dos eventos? Será falta de interesse? Falta de dinheiro não será, porque a maioria dos eventos que referi, estavam abertos ao público, ou seja, de graça!
Por falar nesta questão, há uma coisa que me irrita solenemente! A malta está muito mal habituada! Sempre que se fazem eventos, onde quer que seja, que se tenha de pagar a entrada, por mínimo que seja o valor, há uma grande resistência. Ninguém quer pagar para assistir, e outros há que ainda “mandam vir”, como se houvessem participado nos custos da realização! Não pode ser gente! Lá fora, todo o evento cultural é pago! Sim, porque há custos! E, normalmente, as receitas da bilheteira, não dão nem para uma décima parte de compensação pelos custos dispendidos!
Eu sei do que estou a falar! Há muito que trabalho nesta área! Mas enfim…
Muito há por dizer nesta matéria, mas não quero correr o risco de me tornar repetitiva.
Termino minhas lucubrações, com esta: na Revista do Jornal A Semana, fez-se um apanhado dos trabalhos realizados em 2006, no campo da música. Fez-se inclusive, referência ao trabalho de Don Kikas! Mas de “Fragmentos” nem uma palavra. Que desilusão! Posso até entender, que a musica de “Fragmentos” não seja apreciada nos mesmos moldes que todas as outras que são tão apreciadas! Nem é a intenção! Mas, depois do espaço que o Jornal deu, aquando de sua chegada ao mercado, não seria de esperar a total ignorância dada, no tratamento dos trabalhos de 2006! Ainda bem, que as pessoas já não se deixam guiar, e começam a ter suas próprias opções, suas próprias convicções.
Obrigada a todos, da parte que me toca, a quem “Fragmentos” transmite qualquer coisa! Isso é o bastante.

1 comentário:

Anónimo disse...

Querida Vera, primeiro dizer que este teu blog que vou debicando para que seja ao detalhe esta um primor! Abordas imensos assuntos de interesse, e aqui cai tudo, de refleções a poesia. Esta me a saber maravilhosamente essa viagem nas tuas bainhas.

Sobre esse tema especifico, eu cá tenho algumas ideias complementares.

Somos um povo curto, porque somos ao que parece, sempre os mesmos. E assim, não dá nada, nem negócio que fará arte! Não há quorum, porque depende se de um núcleo curto que se repete. Lá fora as pessoas são igual montanhas em número, nós somos um montinho de areia.

Juntemos a isso o quotidiano que ao penetrar a pele amortece o espirito deixando as pessoas amorfas para não dizer mofas mesmo, assim, só aqueles que respiram arte, e respiram mais do que a própria que eventualmente criam, ganham o combate do sofa.

Ter fé em como a malta consegue digladiar se com o levantar o rabo do assento apos dias de trabalho e as nhanharices do dia-a-dia para ir aliviar a alma é um soco no escuro. Tanto acerta como falha.

Mas sabes verinha, tenho pena, mesmo muita pena, que assim seja, pois o nosso amado pequeno CV, tem por cartão de visita, precisamente a arte.

É preciso que se aprenda a delicia de outras dimensões que não o que se faz dentro, mesmo o que se faz dentro...bem...aprecia se verdadeiramente tudo o que faz sacudir as ancas, o resto, é paparoca de boi.

Cher Maktub, fragmentos, não tem nada a ver com rebolar, thus...

E eu sou boa de jogo de cintura, gosto de pé no chão e frenetismo no corpo, mas há um mundo para além disso, onde navegam muitos creoulos, a creoulidade tem imensas roupagens. Fragmentos veste seda.

amor para ti daqui deste lado da terra

Vanessa Oliveira